Out There Japan Tour ~ Tokyo Dome 21 de Novembro de 2013 (Uma noite pra nunca mais esquecer)

A primeira (e última) vez que fui no show do Paul McCartney foi em abril de 1990, quando foi a primeira vez que ele fazia um show no Brasil - depois nunca mais consegui ir por diversos motivos (em 1993, não consegui ingresso, depois eu vim pro Japão, em 2002 não sabia que tinha que reservar ingresso quase um ano de antecedência, foi várias vezes ao Brasil e eu aqui, enfim). E quem me acompanha(va) pelo Twitter, aguentava ler meus posts de que, enquanto o Paul lotava estádios no Brasil em lugares nunca dantes sonhados, os fãs aqui sonhavam em um dia ele fazer uma tour no Japão.



Até que, em julho deste ano, enquanto estava navegando na internet eis que aparece a notícia...


Claro que logo em seguida tratei de me cadastrar no site oficial em que estavam pondo os ingressos a venda (aquelas: tentou para os três dias do Tokyo Dome), e esperar ser sorteada, porque aqui, a maioria dos concertos, especialmente os mais concorridos, tem ter muita, mas muita sorte mesmo. Ainda mais que eu queria arena (se fosse perto do palco seria melhor).

Logo que saiu o resultado, via e-mail, paguei e ingresso na mão, aguardando pelo dia (consegui arena, para o último dia da turnê, no Tokyo Dome). E nesse tempo, Paul estava entre América do Norte e Europa, e em outubro, lançou seu novo álbum de estúdio - "NEW" (quem ver a capa, muita gente desavisada nem ia saber de quem seria), que foi bem recebida pela crítica, ficou em primeiro lugar em muitos charts mundiais (incluindo Japão).

Sua chegada ao arquipélago foi muito bem vinda, milhares de fãs de várias faixas etárias no saguão de desembarque no Kansai Airport (Osaka, onde a turnê japonesa começou) vieram recebê-lo, e Paul cumprimentou todos, sorrindo e esbanjando simpatia.

Li os reports dos shows de Osaka (dias 11 e 12, no Kyocera Osaka Dome) e de Fukuoka (dia 15, no Fukuoka Yafuoku! Dome), e todos eles com casa lotada, com público de todas as idades, de todas os lugares do Japão (só pra exemplificar: tinha gente de Aichi que foi no show de Tóquio, porque não teve como encaixar show no Nagoya Dome nem no Sapporo Dome. Motivo: final de ano, depois dos campeonatos nacionais de baseball, os cinco Domes ficam reservados para concertos nacionais e internacionais com meses de antecipação).

Vamos ao que interessa: como foi o show.

Eu sei que vai ter muita gente que não vai concordar comigo, mas o que vou tentar passar é do meu ponto de vista. Pra quem esperou 23 anos, foi o melhor show que assisti em toda a minha vida.


O palco estava ao fundo do Tokyo Dome (visto de quem entra pelo portão 22, o principal), com dois telões nos dois lados, na posição vertical. E bem simples, sem muitos aparatos, nem enfeites, somente com os amplificadores e instrumentos dos músicos. Bem, antes de começar o show parece ser bem por aí mesmo, mas...


O show começaria as 19:00, mas pelo menos 10 minutos antes, os telões passavam imagens antigas do Beatle, ao som das músicas conhecidas (ou nem tanto) remixadas, dando a entender que logo começaria.

Apesar de 20 minutos de atraso, assim que nos telões a última imagem eram de todas as fotos que passaram, formando o famoso baixo Hofner. Assim que Paul entrou no palco, com o baixo citado e cantando "Eight Days a Week", o Tokyo Dome vibrou de alegria.


Durante quase três horas de show, 37 músicas e pequenas pausas para conversar com o público (arriscando algumas frases em japonês), a prova que a idade não afetou em nada a performance do Beatle. Muito pelo contrário: continua em plena forma e ninguém diz que ele está com 71 anos!!!


Em algumas músicas alternou seu famoso baixo Hofner para guitarras Gibson Les Paul, Epiphone Casino, violão e ukelele. Sem falar do piano de cauda (no caso da tour japonesa, foi da Yamaha) e seu famoso "Magic Piano". Os mais "maldosos" falariam que Paul mais trocou de guitarra do que de roupa, que aliás, apareceu no palco com um elegante casaco vermelho forrado com flores (lembrando um pouco o paletó verde que usou quando os Beatles vieram ao Japão em 1966), depois ficou com a mesma roupa o show inteiro (camisa branca, calça preta com suspensórios).

As músicas que interpretou eram do tempo dos Beatles, Wings (sua banda depois que os Beatles terminaram) e solo. Incluindo do novo álbum "NEW", como a faixa título, "Save Us", "Queenie Eye" e "Everybody Out There".

Quando interpretou "Let Me Roll It", no final, tocou um dos clássicos de Jimi Hendrix - "Foxy Lady" -, mas somente solando na guitarra.

Homenagens não faltaram - a linda interpretação de "My Valentine", que dedicou a atual esposa Nancy, tendo imagens no telão de Natalie Portman e Johnny Depp (irreconhecível!) interpretando a música em forma de linguagem de sinais; "Here Today", que dedicou a John Lennon; "Maybe I'm Amazed", que foi para a primeira esposa Linda; e "Something", composição de George Harrison, que Paul interpretou tocando ukelele (violão havaiano, que Harrison gostava).

"Blackbird" foi um dos momentos que o palco se elevou. Paul disse antes que a música ele compôs pensando nos eventos ocorridos na América do Sul nos anos 60. Por isso que naquela época, era muito arriscado para os Beatles fazerem um show lá.

Todo mundo sabe que Paul é vegetariano convicto, participa de eventos contra maus tratos em animais (ele apoia a entidade PeTA) e ecologia (Greenpeace). Mas ele não usa seus shows para fazer militância - se ele o faz, somente quando é show voltado para esses fins, não nas tours normais. Nesse ponto ele separa o que é pra entreter e o que é pra protestar. Embora, durante a música "Back in the U.S.S.R.", entre várias imagens da antiga União Soviética, com dançarinos e arte dos anos 20, rapidamente o apoio para libertar as membros de uma banda de rock que estão presas por protestar contra o sistema de governo russo (a banda Pussy Riot).

Um dos pontos altos do show é a performance de "Live and Let Die" (usada como música tema do filme de James Bond, do mesmo nome). Quando ele canta a frase "So live and let die...", uma sucessão de explosões e chamas aparecem na frente do palco. E calma, tudo foi milimetricamente calculado, sem risco de colocar fogo no Dome todo (porque, obviamente, os Domes são cobertos).


Uma das músicas que não pode faltar no repertório dos shows de McCartney, seria "Hey Jude", na qual, na parte final, o público cantou em uníssono, e nos telões mostrando o público vibrando com a música, acenando, mostrando cartazes com mensagens de amor, agradecimento (incluindo um, que estava a algumas cadeiras na minha frente, "Eu fui no Budokan em 1966!"), uchiwas (não, as meninas não erraram de show) e bandeiras (nessas horas é que eu deveria ter comprado, pedido emprestado...)

No encore, Paul e sua banda retornaram ao palco com as bandeiras do Japão e Reino Unido em punho, respeitando seu país de origem e de onde está fazendo o show (indireta pra alguns "artistas" que pipocam por aí). E ainda segue, com "Yesterday" (com o público usando penlight que receberam na entrada), "Helter Skelter" (que tocou com o baixo que ganhou para tocar no Jubileu de Diamante, em 2012) e terminando com a trinca "Golden Slumbers"/"Carry That Weight"/"The End".

Foram quase três horas de muita música, muita emoção, simpatia e humildade (Paul se desculpou com o público por não saber falar muito japonês, nas falas em inglês, nos telões tinha a legenda pra ajudar quem não entendesse). E prova que Paul, mesmo com 71 anos, dá de infinito a zero em muita gente por aí.

A banda que o acompanha, somente o tecladista é o mesmo desde 1990, o Paul 'Wix' Wickens. Os demais, que são mais novos que Paul, conseguem ter uma sincronia e interatividade natural, o que proporciona uma diversão a mais.

Ah, sim. O palco. Antes de começar o show, muita gente desavisada pode pensar que é simples, com iluminação normal, sem detalhes. Ledo engano. Os spots de luz mudam de cor conforme o ritmo da música, formam grades (durante a performance de "Band on The Run"), e no telão, várias imagens conforme o contexto da música (em "All Together Now", uma animação engraçadinha e divertida, por exemplo).

E quem pensou que o público japonês ia ficar sentadinho, quietinho (sim, na arena, tinham cadeiras), ledo engano!!! Pelo menos onde eu estava, quase ninguém ficou sentado, nem mesmo durante as músicas mais lentas! (Digo "quase", porque na platéia tinham pessoas quase da mesma faixa etária que o Paul ou um pouco mais) E vibrando, surtando, gritando, acenando.

Se teve alguma celebridade daqui no meio da platéia assistindo, eu não sei, mas se teve, fez questão de ficar na surdina, tal como o restante do pessoal, porque a estrela da noite estava lá, no palco, tocando seu baixo em formato de violino, que encanta milhões até hoje e sempre.




(Eu sei que eu deveria ter postado no dia seguinte ao show, mas estava com as emoções a flor da pele que nem conseguiria postar algo que prestasse.)

O setlist do show do dia 21 de novembro pode ser encontrado facilmente aqui!

Algumas observações:

- Quem comprou o ingresso na Arena (o mais caro), a primeira fileira ficava a alguns metros do palco. Eu estava na décima fileira, da esquerda pro meio, o que dava pra ver bem, mas acompanhei melhor pelo telão esquerdo que ficou bem na nossa direção. E o telão tinha uma definição excelente! O preço do ingresso para a arena custava cerca de 350 reais.

- Todos os ingressos são numerados. Portanto, não tem aquela de "chegou primeiro é meu", exceto se o ingresso for para o "Tachimi" (立ち見), aí sim, vale o que eu disse (experiência própria: quase não vi nada no show do U2 em 2006 e garanti logo bem na sacada no show do Masaharu Fukuyama). Voltando aos ingressos numerados - se tiver dificuldade em encontrar seu lugarzinho, os staffs o ajudarão.

- Na hora de entrar, sua bolsa é revistada pra ver se não está com câmera. E perguntam pra ver se a pessoa não dá um fora. Bem, confesso que minha câmera estava no fundo da bolsa, debaixo de meus pertences pessoais. Só não entendo que como ninguém fala nada de celular, iPhone, Smartphone... tinha gente tirando foto até com um Nintendo 3DS!!! (Se tinha iPad e/ou tablet, eu nem duvido de mais nada...)

- Desde que eu vou em shows, nunca, mas nunca mesmo vi briga, discussão, bate-boca e coisas do gênero. Mesmo em shows menores.

- Cadeiras na arena podem soar estranho para quem é "de fora", mas serve pra colocar a bolsa, as sacolas e raramente sentar. Confesso que só sentei antes de começar e depois que terminou o show. E' que pra ir embora, tem que esperar a ordem pra sair, pra não tumultuar. E o pessoal obedece sem reclamar.

- Esqueceu alguma coisa na arquibancada ou na arena? Não se preocupe que na seção de achados e perdidos você encontra. Basta saber onde você estava.

- Comer e beber durante o show nunca vi. Antes e depois, sim. 

- Logo que entra no Dome, a produção entrega um saco contendo instruções do penlight que está dentro. O penlight é usado no encore, quando começa "Yesterday". Não se preocupe, que ele apaga sozinho, mas não dá pra reutilizar.

- Muitas pessoas levaram cartazes expressando seu amor e agradecimento, como disse. Inclusive jovens que levaram uchiwas (leques) com a foto do Beatle e mensagens curtas. Calma que elas não erraram de show ~ é uma forma mais fácil e prática de transmitir mensagens (ou pensaram que só show de Johnny's pode ter isso?)

- Sobre goods da tour: confesso que eu achei que não fosse ter, porque ninguém comentou nada. Fui pro Tokyo Dome duas horas antes dos portões abrirem, só pra dar uma volta por lá. Cheguei e comprei o panfleto da tour. Tal foi minha surpresa, que diante do portão 22 (a entrada principal), estava a indefectível longa barraca dos goods - vários tipos de camisetas, jaqueta, blusa de moleton, happi, ecobag, postcard set, penlight, chaveiro, cartão de identificação, pingente em forma de coração, posters... Resultado: fiquei duas horas na fila porque eu queria a ecobag e o chaveiro - que esgotou logo e acabei comprando o cartão. Não comprei a camiseta porque do meu tamanho já tinha esgotado... (se tivesse o tumbler, nem pensaria duas vezes) Detalhe: a fila era quase pior que dia de show do Arashi, se me entenderam.

Otsukaresama, Paul, esperamos que não demore muito pra fazer uma nova turnê (ano que vem, quem sabe?)

Créditos: Os Garotos de Liverpool, The Beatles College, Out There Japan, paulmccartney.com

Fotos: Todas da autora (via celular mesmo, por isso a qualidade terrível das mesmas) exceto a primeira que é do site oficial Out There Japan Tour.

Comments

  1. Ki,vou tentar de novo hihi...Adorei seu relato,me fez sentir la no Dome junto de você!!Só queria saber de uma coisa:pq exatamente Deep e Portman apareceram no telão em My Valentine?Entendi q fizeram a linguagem de sinais mas pq?Eles protagonizam algum filme com essamusica ou faz parte de um MV???Arigatou e beijinhos!

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    1. Dezza, gomen a demora ai. Bem, Natalie Portman e Johnny Depp so aparecem mesmo no PV de "My Valentine", e Natalie interpreta a musica com linguagem de sinais como parte do video mesmo. Tanto que no show, foi passado esse clipe enquanto Paul cantava no palco.
      Beijao!!!

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