Maio



Fazem dezessete anos que vim parar aqui e dezessete anos que passo o segundo domingo de maio longe de minha mãe. Eu bem que ultimamente tento retornar para um mês de merecidas férias, mas sempre acontece algum imprevisto que me impede de fazer isso.

Seja como for, eu não lembro de minha mãe somente em dias especiais, mas todos os dias - embora eu telefone para ela uma vez por mês por questões de algo chamado... economia!!! Explicando: quando cheguei aqui no Japão, em 1998, na época, ligação internacional era caro pra caramba. Então, eu telefonava pra minha família uma vez por mês e quando não muito, duas, no caso de extrema urgência. Se eu telefonasse mais de duas vezes no mês, era fatal a pergunta: "Aconteceu alguma coisa???"

Apesar dessa distância geográfica, eu sempre lembro da minha mãe como se ela estivesse ao meu lado. Qualquer coisa que eu vejo, faço e até falo, lembro dela. Desde os panos de prato feitos de saco de farinha alvejada com barradinho de crochê (e o primeiro que falar que é coisa brega, vai levar uma chibatada com esse pano, viu?), até certas superstições (ou hábitos, que seja), como não comer frango na véspera do ano Novo.

Mas se meus pais estivessem morando aqui (não necessariamente no mesmo teto), além das conversas cotidianas, as broncas seriam as mesmas. Aquelas broncas típicas de mãe, sabem? E talvez com algum upgrade. Ah, sim. A hora do almoço, o pão de ló (que até hoje eu nunca acertei fazer igual), a farofa de abobrinha e a torta de sardinha com tomate.

A macarronada de domingo, fazer compras no supermercado e ficar pesquisando o melhor preço (nem preciso dizer de quem eu peguei esse hábito), assistir filme (minha mãe nunca foi chegada em novela), regar as plantas, os afazeres domésticos.

Eu sei que às vezes as mães exageram (um pouco), mas se tem algo que minha mãe sempre deu apoio foi na escolha de nossas decisões quando entramos na fase adulta. Embora a gente sempre teve aqueles altos e baixos na vida e as broncas merecidas. Na hora a gente acha ruim, mas depois a gente cai na realidade e "ela estava certa".

Hoje, mais do que nunca, eu valorizo muito mais o que minha mãe fez (e ainda faz) por mim e pelos meus irmãos. Embora a gente já tenha passado da casa dos "enta" (exceto meu irmão mais novo, que ainda está entrando nos "inta"), tudo o que ela nos ensinou, continua sendo válido. E toda vez que converso com ela, nem ligo se fico uma a duas horas no telefone conversando (e ela: "Vai sair caro essa ligação"), mas só de saber que estão todos bem e com saúde, eu agradeço por esse dia.

E uma das coisas que aprendi com ela é que, temos que agradecer pelo dia que passou, sinal que estamos vivos, por mais que o trabalho seja ingrato, que o dia nem foi tão bom assim, mas o fato de poder dormir e acordar para mais um dia, seria o suficiente.

E saúde também - sem saúde, sem vida.


Feliz dia das mães, 24 horas por dia, sete dias na semana, 365 dias no ano.

Imagem: do FB na timeline da minha amiga Cintia "Lina Style".

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